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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A mudança da paisagem e a ocupação do território a partir do Açu

Desde 2005, com frequência maior ou menor, este blogueiro circula pela região onde hoje se instala o Complexo Logístico Industrial do Porto do Açu (Clipa).

Já descrevi e mostrei em fotos aqui como era aquele balneário e o litoral, onde hoje não é mais possível se circular nem a pé e nem de carro, porque se tornou propriedade privada.

As mudanças no território vêm sendo paulatinamente implementadas, porém, algumas quando são percebidas se mostram mais agudas e significativas que outras.

A vinda de técnicos e trabalhadores de fora da região teve um momento facilmente percebido, naquele início da construção, em outubro de 2007 e depois, uma certa acomodação.

A vinda de trabalhadores de fora
Agora, porém, com a instalação do estaleiro da OSX, junto ao porto, em ritmo forte e com perspectivas de início de funcionamento, segundo informam, já em 2013.


Este cronograma aponta para um início ainda antes do porto, que deve ter seu início adiado mais uma vez para 2014, quiçá 2014, o cenário de ocupação do território está se modificando e muito fortemente. 

Hoje, só no estaleiro, já se tem cerca de 2,5 mil trabalhadores. Pelo andar da carruagem, este número deve triplicar ou mais até os primeiros meses do ano que vem.
Mapa das localidades de SJB

São trabalhadores de montagem industrial, soldadores, eletricistas além do pessoal de infraestrutura e construção civil.

A contratação para estes serviços exige (como já escrevemos aqui sobre soldadores) mais que formação prática experiência. 

Os trabalhadores da região que têm esta formação e experiência estão em sua maioria já colocados na indústria de petróleo e do gás, offshore ou onshore.

Os que estão sendo “treinados” (diferente de formados) só adquirirão experiência mais adiante, quando deverão ser aproveitados em percentuais em torno de 40% no máximo, segundo os documentos da OSX para investidores.

Pois bem, esta vinda de uma leva enorme de trabalhadores de fora já aumentou, a partir do final do 1º semestre, a procura, e consequentemente por imóveis na região do Açu, em SJB e em Grussaí e Atafona.

Neste processo foram buscadas residências para encarregados e gerentes e para os trabalhadores. Agora, para dar conta da vinda significativa de mais trabalhadores, as empresas estão construindo alojamentos que no início da implantação do empreendimento a prefeitura tentou evitar com todos os problemas que eles tendem a trazer.

Alojamentos
No início da implantação do porto foi dito que não seriam tolerados os alojamentos de trabalhadores, que seria exigido das empresas, a repartição da hospedagem destes trabalhadores de fora, em diferentes locais e e residências, para evitar as aglomerações e os problemas daí decorrentes. Porém, parece que isto se acabou se perdendo entre diversas outras questões.

Muitos trabalhadores estão vindo da região sul, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Para ampliarem suas chances de contratação muitos buscam conhecidos e parentes para informar endereços fictícios locais. O fato é, sem constrangimentos, comentado em conversas informais. 

Montagem de alojamentos da ICEC na estrada Caetá - Açu
A ICEC de São Paulo que atua na montagem de estruturas metálicas, hoje possui cerca de 200 trabalhadores e agora constrói um alojamento para cerca de mil trabalhadores, próximo de onde a empresa ARG possui um escritório e também alojamento, na estrada de Caetá, que liga a BR-356 ao Porto do Açu, que fica a cerca de dez quilômetros da primeira, próximo à localidade de Campo da Praia.

Outra empresa recém-chegada à região é a espanhola Acciona que constrói estruturas para o quebra-mar e píeres dos terminais TX-1 e TX-2 do porto.

A Acciona que já alugou em torno de 25 apartamentos, para seus técnicos mais qualificados e gerentes, próximo ao Salesiano em Campos, optou por construir, na localidade de Barra do Furado, numa grande área onde está concluindo terraplanagem, um alojamento, ao lado do estaleiro onde estes trabalhadores atuarão. (vide fotos) 
Aterro e terraplanagem da Acciona para construção de alojamento no Açu

Não espanta mais a circulação dos caminhões com o transporte de pedras pesados do Itaóca até o Açu para a construção dos moles e quebra-mar dos terminais.

As estradas de asfalto feitas com bases mais reforçadas suportam este tráfego, mas, as ruas menores, eventualmente utilizadas, sofrem as consequências.

O que espanta mesmo é a extensão do aterro hidráulico feito com areia do fundo mar (na área dragada para o canal de acesso aos dois terminais do porto) e da praia e da Lagoa do Veiga para a construção do canal do Terminal TX-2 sobre toda a região do empreendimento, cuja altura é chega a superar em alguns pontos a seis metros. 

Impactos ambientais, sociais e econômicos
Também assusta a quantidade de areia, a altura por conta do que ele representa de escoamento das águas, num projeto de macrodrenagem que é pouco ou nada conhecido que, pode atender ao empreendimento, mas, precisa também proteger e não impactar as terras e a população que vive no seu entorno, com riscos de alagamento nos períodos de cheias daquela baixada. 

Há desconfianças de que a salinidade da água escoada desta areia pode estar trazendo para o lençol freático desta região, com impacto também para o solo, e ainda para as lagoas (Iquipari, Salgado e mais adiante a do Açu) e ainda para o Rio Água Preta, com consequências também para a fauna, além de todos os impactos para a agropecuária. 

Circula entre os moradores comentários sobre efeitos já identificados dos impactos desta salinização. A empresa, nas exigências de mitigação ambiental assumiu compromissos em monitorar estas águas, mas, nada se sabe sobre os resultados deste processo.
Aterro Hidráulico de aproximadamente 7 metros usado em todo o Clipa

Todo este novo quadro vem agora alterando mais significativamente a paisagem naquela região, nas localidades de Água Preta, Mato Escuro e Açu. 

Mais minimercados, ladeados por restaurantes estão sendo abertos para atender os funcionários mais graduados e refeições para serem entregues aos trabalhadores. No Açu, a inauguração de um imenso refeitório no estaleiro da OSX reduziu a procura por alimentação.

A quantidade de ônibus e vans circulando e ajudando no fluxo de trabalhadores também já aumentou bastante. As preocupações com segurança são maiores, tanto pelo dinheiro circulante ser maior como pela movimentação de pessoas estranhas. 

Zona de amortecimento, fronteira do empreendimento e equipamentos públicos
Ainda me causa espanto, o fato dos limites do empreendimento, do estaleiro da OSX, na Barra do Furado, não ter sido considerado, como teria sido previsto e apregoado nas audiências públicas, com uma zona de amortecimento da área do empreendimento, em relação àquela comunidade. 

Os limites entre a comunidade de Barra do Açu e o empreendimento
A fronteira da zona industrial está cercada por casebres, sem água, esgoto, arruamento e outras demandas básicas. A escola da comunidade já não dá conta das demandas atuais, ainda pouco ampliada.

O espaço de uma nova escola que será inaugurada no último dia deste setembro será pequena e certamente insuficiente para o adensamento populacional que se avizinha. O posto de saúde local reformado pelo grupo EBX quando iniciou a implantação do empreendimento precisa hoje de ampliação e nova reforma.

Ainda, em Barra do Açu, uma pequena estação rodoviária está com a obra parada há meses. A construção pelo governo estadual (estranhamento como prioridade) de uma capela mortuária, ladeada (também estranhamente) por uma pequena praça com brinquedos infantis, já está bem deteriorada, antes mesmo de ser inaugurada, mesmo com o término de sua construção há mais de um semestre.

Ritmo de implantação do Complexo logístico-industrial
Cinco anos depois, mesmo que os projetos das siderúrgicas (Ternium e Whuan) tenham sido adiados (talvez suspensos) a construção do estaleiro provoca hoje, naquele território movimentações e mudanças maiores, do que aquela produzida quando do início da construção do porto no final de 2007. 

Vista do estaleiro a partir da Estrada do Figueira que circunda o CliPa
Para região o ritmo menos frenético das intervenções tende a ser positivo, porque permite um menor impacto e ajustes que precisam e devem ser feitos por quem tem esta obrigação que é o poder público, em seus diferentes níveis.

Continua praticamente ausente o governo do estado neste processo. Sua intervenção, se tanto, obedece estritamente às exigências legais.

Assim, ela se dá nas etapas de licenciamento ambiental com a realização das audiências públicas e posteriores decisões, e no caso da instalação do DISJB (de propriedade do estado, apesar da gestão estar toda sendo feita pelo grupo EBX) com as desapropriações das áreas dos produtores rurais.

A necessidade de articulação intermunicipal
No mais, muito pouco ou nada se vê de intervenção do governo estadual, de articulação com as gestões dos municípios de Campos e SJB, de planejamento e ordenamento territorial, de apoio e ousadia como o caso merece nas ações e atividades de saneamento, de transporte coletivo, de habitação e outros.

Enfim, mais um dia pela região do Açu permite ler e compreender este processo de mudança que pontualmente chega ao conhecimento da população.

Nestas informações leituras pontuais só os extremos são informados, as imponências das intervenções estruturais e tecnológicas de um lado, e do outro, as notícias das covardes desapropriações e expulsões daqueles que resistem em deixar as suas terras.

Tudo o mais parece não merecer a atenção, seja dos gestores, da velha mídia e mesmo de uma boa parte daqueles que se dedicam a estudar e pesquisar todo este processo. 
Caminhões aguardam para descarregar pedras para o mole (quebra-mar)

O blog com esta postagem oferece sua colaboração para o aprofundamento e acompanhamento deste processo que se relaciona com uma mudança estrutural mais profunda na economia do estado, em direção a algumas regiões do interior.

Para alguns vivemos uma espécie de inflexão econômica reduzindo o enorme tamanho da região metropolitana do estado em direção ao interior, enquanto para outros, poderemos estar vivenciando processos de desconcentração reconcentrada em novos espaços.

A falta de integração entre os municípios, dentro das regiões e também inter-regional são visíveis e poderiam ser corrigidos, mesmo que em parte, para reduzir dificuldades e riscos, e evitar o aumento das desigualdades sociais, em meio ao crescimento econômico consequente dos novos empreendimentos e das receitas governamentais dos royalties.

Enfim, apenas um relato com informações e questões a serem aprofundadas.










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